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Foto do escritorAlex Ferreira

Número de casos de dengue grave mais do que dobra no País; saiba quais são os sinais de alarme



 

O primeiro bimestre deste ano teve 2,5 vezes mais casos de dengue grave ou dengue com sinais de alarme do que o mesmo período do ano passado. Em janeiro e fevereiro de 2023, 3.058 pacientes encararam um agravamento da doença; em 2024, foram 7.771. Os dados são referentes ao acumulado de notificações até a semana epidemiológica oito, encerrada no sábado, 24, que foram divulgados na terça-feira, 27.


“Tivemos neste ano uma necessidade de internação hospitalar muito superior ao ano passado”, afirmou Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, nesta quarta-feira, 28, durante reunião com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Especialistas e as autoridades de saúde destacam que o volume de casos graves é preocupante. As causas disso, considerando que tradicionalmente a maioria das pessoas não enfrenta o agravamento, ainda não estão completamente claras. Até certa medida, é uma questão de proporcionalidade: até esta quarta, o Brasil já ultrapassou 991 mil notificações de infecção provável – mais da metade de todos os casos de 2023, o segundo ano com mais registros desde 2000.


Há uma hipótese, porém, que considera uma mudança na prevalência entre os sorotipos. “No ano passado, o principal sorotipo circulante foi o 1. Agora, temos o 2. Muitas pessoas que tiveram dengue pelo tipo 1 podem ficar doentes pelo sorotipo 2.” No momento, os quatro vírus da dengue circulam, mas, de fato, o DENV-1 e o DENV-2 dominam o cenário – o segundo parece ter ganhado mais tração neste ano.


A reinfecção por dengue está associada a uma maior chance de desenvolver o quadro grave – isso não significa que pessoas que se infectam pela primeira vez não enfrentem agravamento. Por quê?

 

Vamos do começo: quando alguém é infectado por um dos tipos, adquire imunidade apenas contra aquela variação do vírus. Ou seja, fica suscetível à reinfecção pelas demais. No entanto, o que se descobriu é que nosso sistema imunológico fica confuso quando nos infectamos por outro tipo.

 

Ele entende que aquele vírus é o mesmo, e não um diferente, gerando uma resposta exacerbada. Produz anticorpos para a infecção do passado, que estão “desatualizados”, e ainda favorecem a replicação viral, internalização do vírus e, portanto, uma maior gravidade da doença.

 

Com mais casos, mais mortes. Nos primeiros dois meses deste ano, 207 pessoas evoluíram para o óbito. Em 2023, nas oito primeiras semanas do ano, foram 148 – lembrando que o número de casos naquele bimestre foi três vezes menor.

 

A letalidade, que é a razão entre o número de mortes e dos casos prováveis de dengue, por ora, está menor do que no ano passado, de acordo com os dados da pasta. Comparando as oito primeiras semanas epidemiológicas de cada ano, a taxa de letalidade era de 0,07 em 2023, e, agora, está em 0,02.

 

Importante ressaltar, no entanto, que os dados de 2024, mesmo os referentes às semanas epidemiológicas já computadas, são preliminares e provavelmente serão atualizados para cima. Isso ocorre tanto pelo atraso no lançamento de registros nos sistemas informatizados do ministério quanto pelo alto número de óbitos ainda em investigação – são 674 mortes ainda em análise, segundo o ministério.

 

Há variações entre as unidades federativas. No Distrito Federal, onde há a maior incidência de casos e hospitais colapsaram – como disse o governador, Ibaneis Rocha (MDB) – ela é de 0,05.

 

“Importante ficarmos atentos. Porque esse não é (tradicionalmente) o momento de pico da doença. E quando estamos no início de uma curva epidêmica, que não atingimos o pico, a letalidade da doença tende a ser menor”, fala Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). “Mas já observamos um número bastante elevado de casos graves hospitalizados, um aumento substancial em relação ao ano passado”, continua.

 

Picos da dengue costumam ocorrer entre abril e maio. “Essa letalidade pode aumentar com o passar do ano, porque o impacto sobre os serviços de saúde tende a ser maior com a evolução da epidemia.”

 

Idosos

 

A mensagem que fica é a necessidade de preparação do sistema de saúde e das pessoas estarem atentas aos sinais de alerta da dengue. É importante saber que a doença é bifásica (tem duas fases). Após a queda da febre, em geral entre o terceiro e o sétimo dia do seu aparecimento súbito, os sinais de alarme podem aparecer, de acordo com o Ministério da Saúde.

 

Na reunião desta quarta, 28, Ethel pediu atenção especial aos idosos. Conforme mostrou o Estadão, o risco de morte por dengue é 8 vezes maior entre quem tem 60 anos ou mais. Isso se deve, principalmente, ao fato de, nesta faixa etária, serem mais comuns a presença – e o acúmulo – de comorbidades, como diabetes e hipertensão.

 

“Essa população idosa precisa de uma entrada diferenciada no serviço de saúde. Temos que fazer uma dupla porta de entrada para aqueles que estão chegando para o diagnóstico inicial, aqueles que estão chegando para monitoramento – ou seja, que já tem o diagnóstico, foram para casa e pioraram. Esse último não pode competir com todo o mundo”, defendeu.

 

Dengue clássica

 

A dengue clássica é a forma da doença que varia de um quadro assintomático até a apresentação de um leque de sintomas que causam um desconforto significativo ao paciente:

 

– Febre alta (39°C a 40°C): É uma febre repentina e abrupta.

 

– Dor de cabeça

 

– Prostração

 

– Dores musculares e/ou articulares

 

– Dor atrás dos olhos (retroorbital)

 

– Manchas vermelhas: É o que os médicos, cientificamente, chamam de rash cutâneo ou eritema na pele. Visualmente, é, de fato, uma mancha vermelha que, às vezes, pode coçar.

 

– Náuseas e vômitos: Aqui, é importante prestar atenção para ter certeza de que não se trata, na verdade, de um sinal de alerta de gravidade. É preciso observar, por exemplo, a frequência desses sintomas. Caso não possam ser controlados e sejam frequentes (o paciente, em geral, reclama que “nada para nada na barriga”), indicam que algo não vai bem.

 

Dengue com sinais de alarme

 

Após a fase febril da doença, é preciso ficar de olho em sintomas que podem indicar um agravamento do caso. A atenção deve permanecer pelo menos até duas semanas após o início da febre. É válido salientar que a maioria das pessoas não evoluí ao caso grave.

 

Dor na barriga intensa e contínua: Ela é diferente do que popularmente conhecemos por “dor de barriga”, que, em geral, trata-se de uma cólica. Já na dengue com sinais de alarme, essa dor abdominal ocorre devido a um inchaço no fígado, e é contínua e pode vir acompanhada dos seguintes sintomas:

 

– Vômitos persistentes

 

– Acúmulo de líquidos em cavidades corporais

 

– Pressão baixa (hipotensão)

 

– Pele pálida e fria

 

– Inquietação/irritabilidade

 

– Respiração rápida

 

– Aumento do tamanho do fígado

 

– Sangramento de mucosas: Esses sangramentos podem ser percebidos pela presença de sangue nas gengivas na hora da escovação dos dentes, no nariz, na evacuação ou em um fluxo menstrual mais intenso.

 

– Aumento progressivo do hematócrito (porcentagem de volume dos glóbulos vermelhos no sangue); isso só pode ser constatado por meio de exame de sangue.

 

Grupos de risco

 

Qualquer pessoa pode evoluir mal e enfrentar a fase crítica da doença. No entanto, de acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, alguns grupos precisam ficar mais atentos, com maior suscetibilidade ao agravamento:

 

– Crianças: A preocupação reside principalmente nas mais novas, com menos de 2 anos. Isso porque, nos primeiros anos de vida, convivem com uma “imaturidade” do sistema imunológico e, também, dificilmente têm a capacidade de comunicar com clareza os sintomas que podem ser sinais de alerta. Há possibilidade de o bebê herdar anticorpos antidengue da mãe e que, quando infectado pela primeira vez, na verdade, é como se estivesse vivendo a doença pela segunda vez – situação que tende a ser mais perigosa.

 

– Segunda infecção: A segunda vez com a infecção está associada a uma maior possibilidade de agravamento do quadro. Isso porque o sistema imunológico entende que aquele vírus é o mesmo, e não um sorotipo diferente. Dessa maneira, ele produz anticorpos para a infecção do passado. Além de não serem efetivos, esses anticorpos “desatualizados” favorecem a replicação viral, internalização do vírus e, portanto, uma maior gravidade da doença.

 

– Pessoas com comorbidades: A exemplo de hipertensos e diabéticos.

 

– Gestantes: Nelas, o metabolismo, os hormônios e a resposta imune são diferentes.

 

– Idosos (60 anos ou mais): De acordo com especialistas, indivíduos nos extremos de idades – crianças muito pequenas e idosos – têm sistemas imunológicos mais frágeis. Além disso, nessa fase da vida, é comum a pessoa conviver com comorbidades.

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